segunda-feira, 30 de março de 2009

Ausencia


Eu deixarei que morraem mim o desejo de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.

Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O teu olhar nos meus olhos


Sempre onde tu estás

Naquilo que faço

Viras-te agarras os braços

Toco-te onde te viras

O teu olhar nos meus olhos

Viro-me para tocar nos teus braços

Agarras o meu tocar em ti

Toco-te para te ter de ti

A única forma do teu olhar

Viro o teu rosto para mim

Sempre onde tu estás

Toco-te para te amar olho para os teus olhos.

Harold Pinter, in "Várias Vozes"

terça-feira, 24 de março de 2009

Desespero


Voltei ao fim de tanto tempo, para te deixar a minha saudade, o meu desespero, o meu engano.

Ainda penso em ti, será que já me esqueceste?